O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (38 page)

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Authors: Helen Fielding

BOOK: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES
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O
que você vai usar na festa de Rebecca?

Festa?
Então é uma
festa
mesmo.
Meia-noite.
Deixa para lá. Melhor não me chatear com isso. É
o tipo da coisa que não tem mais importância na vida. As
pessoas deviam convidar quem elas querem e os outros não devem
ficar de mau humor por causa disso.

5h30
da manhã.
Por que Rebecca não me convidou para a festa dela? Por quê?
Por quê? Para quantas outras festas todo mundo foi convidado
menos eu? Aposto que neste exato momento estão todos numa
festa, rindo e bebendo champanhe caro. Ninguém gosta de mim. O
Natal vai ser um deserto de festas, exceto as três festas que
tenho no mesmo dia, 20 de dezembro, quando vou passar a noite inteira
na sala de edição.

SÁBADO,
9 DE DEZEMBRO
0
convites para festas de Natal.
7h45.
Mamãe me acordou.


Alô,
querida. Estou ligando rápido porque Una e Geoffrey
perguntaram o que você quer de presente de Natal e eu pensei
numa sauna facial.

Como
é que minha mãe pode – depois de cair em desgraça
e por pouco não ser conden
ada
a muitos anos de prisão - ficar exatamente como era antes,
flertando com policiais e me torturando.


Por
falar nisso, você vai ... - por um segundo, tive um sobressalto
só de pensar que ela ia dizer "ao bufê de peru ao
curry
e com isso trazer à baila o nome de Mark Darcy. Mas não:
ela queria saber se terça-feira vou a festa da TV Vibrante.

Vai? - quis saber, entusiasmada.

Fiquei
morta de humilhação. Meu Deus, eu
trabalho
na TV Vibrante.


Não
fui convidada - murmurei. Não há nada pior do que ter
de admitir para sua mãe que você não é uma
pessoa popular.


Ah,
querida, claro que você foi convidada.
Todo
mundo
foi.


Eu
não fui.


Bom,
vai ver que é porque você trabalha lá há
pouco tempo.


Mas
mamãe, você nem trabalha lá.


Meu
caso é diferente, querida. Bom, estou com pressa. Tchau!
9h.
Breve oásis emocional ao receber um envelope pelo correio, mas
trata-se de uma miragem: convite para a venda especial de maquiagem
de olhos.
11h30.
Liguei para Tom em desespero paranóico para ver se ele queria
sair à noite.


Sinto
muito, Jerome e eu vamos numa festa no Clube Groucho - desculpou-se,
com uma vozinha cantante.

Ai,
Deus, detesto quando Tom está feliz, seguro e de bem com
Jerome. Prefiro muito mais quando está péssimo,
inseguro e deprimido. Como ele sempr
e
diz: "É tão bom quando tudo vai mal com os
outros."


Vejo
você amanhã, então - disse ele, tentando
compensar -, na casa de Rebecca.

Tom
só viu Rebecca duas vezes na vida, ambas na minha casa, e eu a
conheço há nove anos. Resolvi fazer compras e parar de
pensar nisso.
14h.
Dei de cara com Rebecca na Graham and Greene, comprando uma echarpe
por 169 libras. (O que está acontecendo com as echarpes? Uma
hora elas são vendidas por quilo e custam 9,99 libras; outra
hora, são de um veludo divino e têm o mesmo preço
de um aparelho de televisão. No ano que vem isso decerto vai
acontecer com as meias ou as calças e vamos nos sentir por
fora se não estivermos com calcinhas de veludo negro que
custaram 145 libras na loja English Eccentrics.)


Olá
- cumprimentei, animada, achando que finalmente ia acabar com o
problema da festa e ela também diria: "Vejo você no
domingo."


Ah,
oi - respondeu ela, friamente, sem me olhar.

Não posso conversar, estou com muita pressa.

Ela
saiu da loja, onde estava tocando a música “Castanhas
assando na fogueira", e fiquei olhando para um fantástico
coador do famoso
designer
Phillipe Starck que custava 185 libras, mal contendo as lágrimas.
Detesto Natal. Tudo é programado para a família, o
afeto, o aconchego, o sentimento, os presentes, e se você não
tem namorado nem dinheiro, se sua mãe está saindo com
um português ladrão e foragido, e seus amigos não
querem mais ser seus amigos, dá vontade de emigrar para um
desses horríveis países muçulmanos onde pelo
menos
todas
as mulheres são consideradas párias. Não tem
problema. Vou passar o fim de semana lendo um livro tranqüilamente
e ouvindo música clássica. Talvez leia
Estrada
dos famintos.
20h30.
Encontro marcado
estava ótimo. Vou pegar mais uma garrafa de vinho.

SEGUNDA-FEIRA,
11 DE DEZEMBRO
Cheguei
do trabalho e encontrei um recado ríspido na secretária.


Bridget.
Aqui é Rebecca. Sei que você está trabalhando na
tevê. Sei que agora tem grandes festas para ir todas as noites
mas, mesmo assim, acho que poderia ter a gentileza de responder ao
convite de uma amiga, apesar de você estar importante demais
para se dignar a ir à festa dela.

Liguei
para Rebecca na mesma hora, mas nem a secretária eletrônica
atendia. Resolvi ir até a casa dela deixar um bilhete e,
descendo a escada do meu prédio, encontrei Dan, o australiano
que mora no andar de bai
xo
e do qual escapei em abril.


Oi.
Feliz Natal - disse ele, animado.

Você pegou sua correspondência?

Olhei-o
sem
entender o que
estava dizendo.


Tenho
colocado embaixo da sua porta para você não ter de
descer de camisola para pegar de manhã, morrendo de frio.

Subi
a escada correndo, levantei o capacho e embaixo dele, como um milagre
natalino, havia uma pilha de cartões, cartas e convites todos
endereçados a mim. A mim, a mim, a mim.

QUINTA-FEIRA,
14 DE DEZEMBRO
58,5kg,
2 unidades alcoólicas (ruim, pois não bebi nada ontem –
amanhã tenho que compensar o que já bebi para evitar um
ataque cardíaco), 14 cigarros (será ruim? Ou bom? Dizem
que uma pequena quantidade de nicotina no sangue pode ser bom, desde
que a pessoa não fume sem parar), 1.500 calorias (excelente),
4 bilhetes de loteria (ruim, mas seria bom se o dono da Virgin Store,
Richard Branson, tivesse ganhado sua fortuna numa loteria sem fins
lucrativos), 0 cartão enviado, 0 presente comprado, 5 ligações
para o 1471 (excelente).
Festas,
festas, festas! E Matt, colega da redação, acaba de
ligar perguntando se vou ao almoço de Natal na terça-feira.
Não pode
estar interessado em mim, tenho idade para ser tia-avó dele,
mas então por que ligou à noite para me convidar? E por
que perguntou com que roupa eu estava? Não devo ficar muito
animada e nem deixar que a festa e o telefonema do rapaz me subam à
cabeça. É melhor lembrar do velho ditado que diz que
gato escaldado tem medo de água fria e também que onde
se ganha o pão não se come a carne. E recordar o que
aconteceu na última vez em que me meti com um frangote: passei
pela humilhação de ouvir Gav dizer: "Ah, você
é toda fofa." Humm. O sexualmente emocionante almoço
de Natal será seguido de uma noite numa discoteca (para o
editor, é esse o ideal de diversão). O fato exige uma
criteriosa escolha de roupa. Acho melhor ligar para Jude.

TERÇA-FEIRA,
19 DE DEZEMBRO
60,3kg
(mas tenho quase uma semana para perder 3 quilos até o Natal),
9 unidades alcoólicas (sofrível), 30 cigarros, 4.240
calorias, 1 bilhete de loteria (excelente), 0 cartão enviado,
11 cartões recebidos, incluindo 1 do jornaleiro, 1 do gari, 1
dos funcionários da garagem Peugeot e 1 do hotel onde passei
uma noite, quatro anos atrás, em uma viagem de trabalho. Sou
uma pessoa pouco popular, ou vai ver que este ano todo mundo está
enviando seus cartões mais tarde.
9h.
Ai, Deus, estou me sentindo horrível: com uma acidez no
estômago causada pela ressaca e hoje é o dia do almoço
na discoteca. Não posso ficar assim. Vou explodir por causa de
tantas obrigações que deixei de cumprir, parece até
revisão para provas de final de ano. Não consegui
mandar os cartões nem fazer as compras de Natal, exceto as
coisas que comprei correndo ontem na hora do almoço, quando vi
que aquela noite na casa de Magda e Jeremy seria a última vez
que eu ia encontrar as garotas antes do Natal.

Detesto
troca de presentes entre amigos porque, ao contrário da
família, não há como saber quem vai ou não
dar presentes e se estes devem ser uma lembrancinha ou um presente
mesmo, então tudo se transforma numa terrível troca de
cartas marcadas. Há dois anos, comprei para Magda uns brincos
lindos na Dinny Hall e ela ficou sem graça porque não
tinha comprado nada para mim. No ano passado, então, não
comprei nada para ela e ela me comprou um vidro do caríssimo
perfume Coco Chanel.

Este
ano comprei para ela um vidro grande de óleo de açafrão
com champanhe e uma saboneteira de arame trançado e ela ficou
gaguejando aquelas mentiras de sempre, de ainda não ter feito
as compras de Natal. No ano passado, Sharon me deu uma espuma de
banho numa embalagem em forma de Papai Noel, então na noite
passada dei para ela um vidro de algas marinhas da Body Shop e uma
geléia para passar no banho e ela me deu uma bolsa. Eu tinha
levado um embrulho extra com um vidro de azeite fino como presente
neutro de emergência mas ele caiu do meu casaco e quebrou em
cima do
tapete da Magda
da loja Conran.

Argh.
Seria ótimo se o Natal apenas
fosse,
sem trocas de presentes. É uma coisa tão idiota, todo
mundo se estressando, gastando rios de dinheiro em coisas inúteis
que as pessoas jamais usarão: os presentes deixaram de ser
provas de afeto para virarem uma angustiada solução
para problemas. (Humm. Mas tenho de admitir que adorei ganhar uma
bolsa nova.) O que adianta o país inteiro ficar correndo
durante seis semanas, de mau humor, preparando-se para um inútil
teste sobre qual será o gosto dos outros, no qual o país
inteiro é reprovado e depois fica com coisas horrendas e
indesejadas? Se acabassem com os presentes e os cartões, então
o Natal passaria a ser como um animado festival pagão para
distrair as pessoas do inverno deprimente.

Mas
se o governo, as instituições religiosas, os pais, a
tradição etc. insistem que se não houver
recolhimento do imposto sobre presentes de Natal o país vai se
arruinar, por que não obrigar cada pessoa a sair e gastar 500
libras em presentes para si mesma, depois distribuir para os parentes
e amigos embrulharem e darem para elas, em vez desse tormento
psicológico?
9h45.
Mamãe ligou.


Querida,
estou telefonando para dizer que este ano resolvi não dar
presentes para ninguém. Você e Jamie agora já
sabem que Papai Noel não existe e todos nós estamos
muito ocupados. Este ano vamos apenas ter o prazer de nos reunir.

Mas
sempre ganhamos presentes de Papai Noel em sacos colocados na beira
da cama. O mundo agora ficou sem graça e cinzento. Não
vai p
arecer o mesmo
Natal de sempre.

Ai,
Deus, melhor eu ir trabalhar - mas não vou beber nada no
almoço na discoteca, só vou ser simpática e
profissional com Matt, ficar lá até as 15h30, depois
sair e voltar para escrever meus cartões de Natal em casa.
2h
da manhã.
Clarque tudo bem - todo mundo bebe nas festas de Natal do trabalho.
Bem divertido. Tende dormi nvonem tirarrop.

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