O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (9 page)

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Authors: Helen Fielding

BOOK: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES
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Acordo
sozinha e fico pensando em minha mãe na cama com Julio. Há
uma profunda repulsa em pensar nos pais fazendo sexo, ou melhor, um
dos pais. Sinto ódio deles por causa de meu pai; fico sensata,
otimista com o exemplo de mais 30 anos de paixão desenfreada
diante de mim (algo relacionado às lembranças
freqüentes de Joanna Lumley e Susan Sarandon) mas,
principalmente, sinto muita inveja, sou um fracasso e uma burra por
estar na cama sozinha num domingo de manhã, enquanto minha mãe
com mais de 60 anos está quase dando a segunda... Ai, meu
Deus. Não agüento nem pensar.

MARÇO

Pânico
total em relação ao aniversário

SÁBADO,
4 DE MARÇO
57kg
(para que fazer regime durante o mês de fevereiro inteiro se no
começo de março acabo exatamente com o mesmo peso?
Argh. Não vou mais me pesar e anotar tudo o que como, já
que não adianta).
Minha
mãe passou a ter uma energia jamais vista. Hoje de manhã,
ela irrompeu no meu apartamento quando eu ainda estava de roupão,
pintando a unha dos pés, no maior tédio, olhando na
tevê os preparativos para uma corrida.


Querida,
posso deixar essas coisas aqui por umas horas? Perguntou ela,
carregando um monte de sacolas de compras e entrando no meu quarto.

Logo
depois, morta de curiosidade, fui ver o que ela estava fazendo.
Sentada em frente do espelho, usava um caro conjunto cor de café
de corpete e calcinha e passava rímel nos cílios, com a
boca aberta (um dos grandes mistérios da natureza é a
necessidade de abrir a boca para aplicar rímel)


Não
acha que você devia se arrumar, querida?

Ela
estava incrível: a pele linda, o cabelo brilhando. Dei uma
olhada na minha imagem refletida no espelho. Eu devia mesmo ter
tirado a maquiagem antes de dormir. Um lado do meu cabelo estava
grudado na cabeça, o outro formava uma série de pontas
e chifres. Era como se meu cabelo tivesse autonomia, comportando-se
muito bem o dia todo, aguardando até eu dormir para começar
a correr e pular como crianças se perguntando: “O que a
gente inventa agora”?


Você
sabe – disse mamãe, perfumando o colo com seu Givenchy
II

,
durante todos esse anos seu pai criou tanto problema para pagar as
contas e os impostos, como se isso redimisse os trinta anos em que
lavei pratos. Bom, a declaração de imposto de renda não
estava pronta e pensei: dane-se, eu faço. Claro que aquilo me
pareceu tão complicado quanto grego arcaico, então
liguei para a Secretária de Finanças. O funcionário
que atendeu foi muito arrogante. “Sinceramente, sra. Jones, não
entendo qual é o problema”, disse ele. “Escuta uma
coisa: o senhor é capaz de fazer um pãozinho assado?”
Aí ele explicou tudo e em quinze minutos estava pronta a
declaração. Aliás, ele me convidou para almoçar
hoje. Um funcionário da receita, imagine!


Como?
– perguntei, pasma, me apoiando no batente da porta.

Que fim levou o Julio?



porque sou
amiga
do Julio não quer dizer que não posso ter outros
amigos
– informou ela candidamente, vestindo um conjuntinho amarelo.


O
que acha desse conjunto? Comprei agora. Amarelo-limão. Mas
tenho de me apressar. Vou encontrar com ele na lanchonete da
Debenhams à uma e quinze.

Depois
que ela saiu, abri um pacotinho de granola, comi uma colher e acabei
com a sobra do vinho que estava na geladeira.

Conheço
o segredo dela: descobriu o poder. Tem poder sobre papai: ele quer
que ela volte. Tem poder sobre Julio e sobre o funcionário da
Receita, e todo está sentido esse poder e querendo ter um
pouco, o que a torna ainda mais irresistível. Só me
resta encontrar alguém ou alguma coisa para dominar e então...
ai, meu Deus. Não domino nem meu próprio cabelo.

Estou
tão deprimida. Embora Daniel estivesse muito simpático
esta semana, conversador, fazendo até um charme para mim, não
consigo entender o que está havendo entre nós, como se
fosse completamente normal um homem dormir com uma colega e ficar por
isso mesmo. O trabalho, que antes era só uma chateação,
passou a ser uma tortura. Fico sofrendo cada vez que ele sai para
almoçar ou veste o casaco no final do dia para ir embora:
aonde vai? Com quem? Quem?

Perpétua
parece ter conseguido jogar todas as tarefas dela em cima de mim e
passa o dia inteiro telefonando para Arabella ou Piggy, falando sobre
o apartamento de meio milhão de libras em Fulham que vai
comprar com Hugo. “É. Não. É. Não,
concordo
plenamente
.
Mas o problema é o seguinte: será que alguém vai
querer pagar mais trinta mil para ter mais um quarto?”

Ás
16h15 de sexta-feira, Sharon ligou para o escritório:


Você
vai sair comigo e Jude amanhã?


Ahn...
– Fiquei em pânico, pensando: ‘Será que,
antes de ir embora, Daniel vai me convidar para sair com ele no final
de semana?”


Me
liga, se ele não te convidar – disse Sharon, depois de
uma pausa.

Às
17h45 vi Daniel de casaco se encaminhando para a porta. Minha
expressão assustada deve ter feito ele se sentir culpado,
porque sorriu sem graça, mostrou a tela do computador e saiu.

Logo
depois, estava piscando Chegaram Novas Mensagens. Teclei Sim. Dizia:

Mensagem para Jones

Tenha
um bom fim de sema. Plim-plim.

Cleave.

Me
sentindo a última das mulheres, peguei o telefone e liguei
para Sharon.


Nos
encontramos amanhã a que horas? – perguntei, humilde.


Às
oito e meia, no Café Rouge. Não se preocupe, nós
te amamos. Diga a ele para não encher com suas babaquices
emocionais.
Duas
da manhã.
Ah, foi
maravilhozcom Sharoe Jude. Não que maisna com aquela besta do
Daniel. Estou enjoada. Opa

DOMINGO,
5 de março.

8h.
Argh. Melhor morrer. Nunca, nunca mais bebo na vida.
8h30.
Aaai. Seria bom comer uma batata frita.
11h30.
Estou morrendo de sede, mas é melhor ficar de olhos fechados e
deixar a cabeça enfiada no travesseiro para não
atrapalhar os pinos batendo e os faisões passeando dentro
dela.
Meio-dia.
Foi bem divertido, mas estou mto confusa sobre conselho sobre Daniel.
Primeiro, tive de ouvir os problemas de Jude com Richard o Vil, já
que eles são um caso mais sério, estão saindo há
18 meses, bem mais do que uma transadinha de nada. Portanto,esperei
com humildade minha vez de contar as últimas de Daniel. A
conclusão geral, foi a princípio: babaquice emocional.

Jude
apresentou a interessante teoria do Tempo Masculino, como no filme
Patricinhas de Beverly
Hills
: os chamados 5
dias (“sete”, corrigi) depois do sexo durante os quais um
novo relacionamento fica em suspenso. Essa fase não parece um
tempo desesperador para os machos da espécie, mas um período
normal, de esfriamento para avaliar as emoções antes de
prosseguir. Jude argumento que Daniel estava muito nervoso com a sua
situação profissional etc., etc., então eu tinha
de compreender, ser simpática e agradável para mostrar
que confio nele e não vou pular fora da relação.

Nesse
ponto Sharon quase cuspiu sobre o queijo ralado e disse que não
era humano deixar uma mulher no ar sem saber o que fazer durante dois
fins de semana depois de dormir com ela e que isso causava uma enorme
insegurança e que eu devia dizer a ele o que eu achava. Humm.
Vamos ver. Vou dar mais uma dormidinha.
14h.
Retorno triunfal de uma heróica expedição ao
térreo para pegar o jornal e um copo d‘água. Dava
para sentir a água correndo como um riacho cristalino nos
cantos recônditos da minha cabeça. Embora não
haja prova, estivesse pensando na teoria de que a água
percorre a cabeça da gente. Deve entrar através da
corrente sanguínea. Como a desidratação provoca
ressaca,talvez a água penetre no cérebro através
de uma espécie de ação capilar.

14h15.
Dei um pulo quando li nos jornais a notícia de duas crianças
de dois anos que tiveram de fazer prova para entrar no
jardim-de-infância. Tenho de ir ao chá de aniversário
do Harry, meu afilhado.
18h.
Dirigi feito uma louca pelas ruas londrinas, cinzentas e molhadas de
chuva, até a casa de Magda, parando antes na Waterstone para
comprar um presente. Fiquei péssima, só de pensar que
estava atrasada, de ressaca e ainda ia ter de ficar cercada de mães
que um dia trabalharam, tiveram uma carreira e agora participavam da
competição Cuidados com os Filhos. Magda, que foi
corretora de ações, mente a idade do filho Harry para
fazer com que ele pareça mais inteligente. Até para
engravidar foi um espanto. Magda tomava oito vezes mais vitaminas e
sais minerais do que qualquer outra mulher. O nascimento foi o
máximo. Ela passou a gravidez inteira dizendo para todo mundo
que seria parto natural, mas foi só sentir a primeira
contração que começou a gritar:


Apliquem
uma anestesia, seus idiotas!

A
festa de aniversário foi um cenário de pesadelo em uma
sala cheia de orgulhosas mamães, uma delas com um bebe de um
mês:


Ah,
não é um
amorzinho
?
– arrulhou Sarah de Lisle, depois perguntou, rápida:

Como foi ele no teste de bebês?

Não sei qual
é o problema desses testes que as crianças são
obrigadas a fazer com dois minutos de vida. Magda ficou sem graça
quando contou que Harry tinha tirado 10 no teste e uma das
convidadas, que era enfermeira disse que a nota máxima era 9.

Sem
se abalar, Magda começou a se vangloriar de que o filho era um
prodígio em matéria de cocô causando uma série
de ataques e contra-ataques. A essa altura, as criancinhas, numa
idade em que deveriam estar envoltas em fraudas plásticas,
passeavam pela sala, vestidos em modelitos da Grife Baby Gap. Menos
de 10 minutos depois que cheguei, o tapete já tinha três
cocôs. Ocorreu então uma discussão inútil
sobre quem tinha feito os cocos, seguida de um tenso trocar de
roupas, oportunidade para uma outra competição a
respeito do tamanho dos pintos dos bebês e, em conseqüência,
dos maridos.


É
assim mesmo, o tamanho do pênis é hereditário.
Cosmo não tem esse problema, sabe?

Depois disso, achei
que minha cabeça ia explodir. Pedi licença, peguei o
carro e voltei para casa, dando graças a Deus por ser
solteira.

SEGUNDA-FEIRA,
6 DE MARÇO

56,2kg
(m. m. b.: percebi que o segredo do regime é não se
pensar).
11h.
Trabalho.
Completamente exausta. Na noite passada, eu estava imersa num banho
morno com óleo de gerânio, tomando vodca com tônica,
quando a campanhinha tocou. Era minha mãe, chorando na escada.
Levei algum tempo para entender o que estava acontecendo, enquanto
ela andava pela cozinha, chorando cada vez mais alto e recusando-se a
falar. Comecei a desconfiar que seu ataque de poder sexual perpétuo
tinha desmoronado como cartas de baralho: papai, Julio e o
funcionário da receita tinham perdido o interesse por ela ao
mesmo tempo. Mas não era isso. Ela estava com a síndrome
do “Tenho tudo”.


Estou
me sentido como a cigarra que passou o verão inteiro cantando
– disse ela, assim que percebeu que eu estava me
desinteressando do caso. – E agora chegou o inverno da minha
vida e não reservei nada para mim.

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