O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (13 page)

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Authors: Helen Fielding

BOOK: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES
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Pelo
jeito, a editora Tina Browm da New Yorker é um gênio em
matéria de festas: passa de um grupo a outro com desenvoltura,
cumprimentando "Martin Amis! Nelson Mandela! Richard Gere!"
com uma voz que dá a firme impressão de que ela está
pensando "Meu Deus, nunca tive o prazer de encontrar alguém
assim na vida! Você já viu a pessoa mais interessante da
festa além de você? Converse! Converse! Faça
contatos! E tchauzinho!" Gostaria de ser como Tina Brown, só
não gostaria, óbvio, de trabalhar loucamente como ela.

O artigo é
cheio de dicas práticas. Pelo jeito, nunca se deve falar com
ninguém numa festa por mais de dois minutos. Findo esse prazo,
basta dizer: "Acho que é para a gente circular. Bom te
ver", e ir saindo. Se você não souber o que falar
depois de perguntar a uma pessoa o que ela faz na vida e tiver como
resposta "Sou agente funerário" ou "Trabalho
para a Agência de Apoio à Criança", basta
perguntar: "E gosta do seu trabalho?" Ao apresentar duas
pessoas, acrescente um detalhe simpático sobre cada uma, assim
elas terão como iniciar uma conversa. Por exemplo: "Este
é John, ele é neozelandês e adora surfar."
Ou então: "Gina é uma ótima pára-quedista
e mora num saveiro."

E o detalhe mais
importante: nunca se deve ir a uma festa sem ter um objetivo definido
- seja "fazer contatos" e portanto aumentar sua rede de
conhecidos que possam ajudá-la a melhorar na profissão;
fazer amizade com uma determinada pessoa ou só "agarrar"
um bom partido. Agora vejo como eu estava errada em ir a festas com o
único objetivo de não ficar bêbada.

SEGUNDA-FEIRA,
17 de abril.
56,2kg,
0 unidade alcoólica (m.b.), 0 cigarro (m.b.), 5 bilhetes de
loteria (ganhei 2 libras, portanto gastei apenas 3).
Certo.
Amanhã é o dia do lançamento de
A
motocicleta de Kafka
.
Vou me concentrar nos objetivos. Basta um minuto. Dar só uma
olhada nas recomendações e depois ligar para Jude.

Certo.
1)
Não beber demais.
2) Ter como meta encontrar pessoas para
ampliar minha rede de contatos.
Hum. Bom, depois eu penso em
mais metas.
23h.
Certo.
3) Colocar em prática as estratégias sociais
do artigo.
4)
Fazer com que Daniel ache que eu tenho equilíbrio interior e
queira sair comigo de novo. Não. Não.
4) Encontrar
um Deus do sexo e dormir com ele.
4)
Fazer contatos interessantes no mundo editorial, ou mesmo com
profissionais de outras áreas para encontrar uma nova
profissão.
Ai, Deus. Não quero ir a essa festa,
fico apavorada. Quero ficar em casa tomando vinho e assistindo a
East-enders
.

TERÇA-FEIRA,18
de abril.

57kg,
7 unidades alcoólicas (ai, Jesus), 30 cigarros, não
posso nem pensar nas calorias, 1 bilhete de loteria (excelente).
O
lançamento do livro começou mal, não vi ninguém
conhecido para apresentar a outra pessoa. Peguei um drinque e
vislumbrei Perpétua conversando com James, do
Telegraph
.
Aproximei-me, segura, pronta para entrar em ação mas,
em vez de Perpétua dizer: "James, esta é Bridget,
que nasceu em Northamptonshire e é ótima ginasta"
(vou voltar a fazer ginástica logo) continuou conversando bem
mais que os dois minutos recomendados e me ignorou.

Fiquei
do lado, me sentindo uma completa idiota, quando vi Simon do
Marketing. Esperta, fingi que não queria participar da
conversa de Perpétua e fui na direção dele,
pronta para dizer "Simon Barnett!" no melhor estilo Tina
Brown. Quando estava bem perto, percebi que, infelizmente, Simon do
Marketing estava conversando com Julian Barnes. Desconfiei que não
seria capaz de exclamar animada "Simon Barnett! Julian Barnes!"
com o tom e o entusiasmo necessários, mudei de caminho e fui
me afastando. Aí, Simon disse numa voz arrogante e irritada
(engraçado, ele nunca usa essa voz quando está querendo
te paquerar perto da máquina de xerox):


Quer
alguma coisa, Bridget?


Ah,
sim! - respondi, sem saber o que eu poderia estar querendo.

Ahn.


Como?
- Simon e Julian ficaram me olhando, à espera de uma resposta.


Sabem
onde fica o toalete? - a pergunta escapou. Droga. Droga. Por quê?
Por que perguntei isso? Vi um sorriso passar pelos lábios
finos-porém-atraentes de Julian Barnes.

Acho
que é por ali, que bom - falei, e fui saindo. Quando passei
pelas portas de vaivém do banheiro, encostei na parede,
tentando tomar fôlego e pensando: "equilíbrio
interior, equilíbrio interior, equilíbrio interior".
O problema é que aquilo não estava funcionando.

Olhei para a escada,
desanimada. A idéia de ir para casa, vestir meu pijaminha e
ligar a tevê começou a parecer muito interessante. Mas,
lembrando das Metas para Festas, respirei fundo, murmurei "equilíbrio
interior", empurrei a porta do banheiro e voltei para a festa.
Perpétua ainda estava ali do lado, se divertindo com suas
horrendas amigas Piggy e Arabella.


Ah,
Bridget, você ia pegar uma bebida, não? - perguntou ela,
mostrando seu copo. Quando voltei com três copos de vinho e um
de água Perrier, elas estavam discutindo grandes temas.


Para
mim, isso é um horror. Significa que, hoje, as pessoas dessa
geração só tomam conhecimento dos grandes
autores da literatura - Austen, Eliot, Dickens, Shakespeare e outros
- através da televisão.


Concordo,
é um absurdo. Um crime.


Com
certeza. Eles acham que, quando estão zapeando do
Noel
e seus convidados
para o
Encontro marcado
,
aquilo é Austen ou Eliot.


Encontro
marcado é aos sábados - informei.


Como?
- Perpétua não tinha entendido o que eu disse.


Aos
sábados.
Encontro
marcado
é às
sete e quinze de sábado, depois de
Gladiadores
.


E
daí? - disse Perpétua com um ar superior, olhando de
soslaio para Arabella e Piggy.


Essas
grandes adaptações de obras literárias não
costumam ser apresentadas nas noites de sábado.


Ah,
olha ali o Mark - interrompeu Piggy.


É
mesmo - disse Arabella, agitada.

Ele se separou da mulher, não?


O
que eu quis dizer é que não tem nada tão bom
quanto
Encontro marcado
em outro canal na mesma hora das obras-primas da literatura, portanto
não acredito que ninguém fique zapeando canais nesse
horário.


Ah,
quer dizer que
Encontro
marcado
é "bom"?
- perguntou Perpétua, com um sorriso irônico.


É,
muito bom.


Você
sabe que, antes de virar novela de tevê,
Middlemarch
foi um livro, não?

Detesto Perpétua
quando fica desse jeito. Velha, gorda, idiota e peidorreira.


Ah,
eu achava que era uma novela patrocinada por um xampu - falei, de mau
humor, pegando vários canapés e enfiando tudo na boca.
Quando olhei para cima, vi um homem moreno, de terno, bem na minha
frente.


Olá,
Bridget - disse ele. Por pouco não deixei todos os canapés
caírem da minha boca. Era Mark Darcy. Mas sem aquele suéter
de losangos estilo comentarista de esportes da tevê.


Olá
- respondi de boca cheia, tentanto não entrar em pânico.
Depois, lembrei do artigo na revista e virei para Perpétua.

Mark, esta é Perpétua - comecei e parei, gelada. O que
dizer? Perpétua, que é muito gorda e passa o tempo
inteiro me enchendo? Mark, que é muito rico e teve uma
ex-mulher muito cruel?


Sim?
- disse Mark.


...
ela é minha chefe e está comprando um apartamento em
Fulhan. Mark é - falei, virando para Perpétua - um
grande advogado de direitos humanos.


Olá,
Mark. Conheço você de nome, claro - anunciou Perpétua
como se fosse uma heroína de novela e ele, o duque de
Edinburgo.


Mark,
olá! - cumprimentou Arabella, arregalando os olhos e piscando
de um jeito que devia achar muito sedutor.


Não
vejo você há séculos. Como vai Nova York?


Nós
estávamos comentando sobre hierarquias culturais - informou
Perpétua.- Bridget é uma dessas pessoas que acha que,
quando a tevê mostra
Encontro
marcado
, é o
mesmo que ver
Otelo
de Shakespeare dizendo o monólogo "Será por causa
deste teu semblante que minha alma ruirá, precipitada dos céus
para os braços das fúrias infernais!" - Perpétua
cacarejava de rir.


Ah,
então Bridget é uma autêntica pós-modernista
- concluiu Mark Darcy.

Esta é Natasha - apresentou, apontando para uma moça
alta, magra e bonita ao lado dele.

Ela é uma grande advogada de família.

Parecia que ele
estava me esnobando. Que ousadia. Natasha falou então, com um
sorriso de quem sabe das coisas:


Acho
que as pessoas deveriam primeiro provar que tinham lido os clássicos
para depois terem permissão de assisti-los na versão
televisiva.


Ah,
concordo
plenamente
- disse Perpétua, continuando seu acesso de riso.

Que idéia ótima!

Com
certeza, ela estava visualizando Mark Darcy e Natasha em casa, com um
monte de criancinhas em volta da mesa de jantar.


Deviam
proibir o público de ouvir a música da Copa do Mundo -
piou Arabella -, a menos que provassem que ouviram a ópera
Turandot
inteira!


Mas,
sob vários aspectos, a democratização da nossa
cultura é uma
grande
meta
... - disse a
Natasha de Mark, subitamente séria, como se a conversa
estivesse indo pelo caminho errado.


Exceto
no caso de programas de auditório, que deviam ser cancelados
antes da estréia - guinchou Perpétua. Sem querer, olhei
para o traseiro dela e pensei "Opinião muito sofisticada,
vindo de quem vem" e vi Mark Darcy olhando para o mesmo lugar.


O
que me
incomoda
- Natasha falava como se estivesse participando de uma mesa-redonda
nas universidades de Oxford ou Cambridge - é isso, essa
espécie de individualismo arrogante que acha que cada geração
vai criar um novo mundo.


Mas
é exatamente o que os jovens
fazem
- disse Mark Darcy, calmamente.


Bem,
se você vê por este prisma ... - respondeu Natasha, na
defensiva.


Que
prisma? - perguntou Mark Darcy.

Não se trata de encarar por um determinado prisma, é um
fato.

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