O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (14 page)

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Authors: Helen Fielding

BOOK: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES
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Não,
desculpe, você está entendendo errado
de
propósito
- disse
ela, mais irritada. - Não estou falando de uma nova visão
desconstrutivista. Estou falando da total
vandalização
da estrutura cultural.

Mark
Darcy fez uma cara de quem ia cair na gargalhada.


Se
você está se referindo ao tipo de bobagem moralmente
relativista, que considera
Encontro
marcado
ótimo ...
- disse ela, olhando para mim.


Mas
eu estava falando sério quando disse que gosto de
Encontro
marcado
- argumentei.

Embora ache que os participantes deviam responder às
perguntas, em vez de lerem respostas decoradas e idiotas, cheias de
trocadilhos e implicações sexuais.


Concordo
- interrompeu Mark.


Detesto
Gladiadores
.
Faz com que eu me sinta gorda - falei. - Mas foi ótimo
encontrar você. Tchau!

Eu
estava esperando a moça da chapelaria devolver meu sobretudo,
pensando em como o fato de não usar um suéter de
losangos pode alterar o charme de um homem, quando senti uma mão
segurando de leve minha cintura. Virei- me.


Daniel!


Jones!
Por que você está fugindo tão cedo? - inclinou-se
e me deu um beijo. - Hum, você está com um perfume
delicioso - constatou, oferecendo um cigarro.


Não,
obrigada, encontrei o equilíbrio interior e parei de fumar -
falei, de um jeito ensaiado, tipo Mulher Modelo, desejando que Daniel
não fosse tão atraente num encontro assim, individual.


Sei.
Equilíbrio interior, não é? - disse com um
sorriso afetado.


Isso
mesmo - respondi, de um jeito também afetado.


Você
estava no lançamento? Não vi.


Eu
sei. Mas eu vi você. Conversando com Mark Darcy.


Onde
conheceu Mark Darcy? - perguntei, surpresa.


Em
Cambridge. Não agüento aquele chato. Parece uma velha.
Onde você o conheceu?


É
filho de Malcolm e Elaine Darcy - comecei, quase acrescentando: "Você
conhece Malcolm e
Elaine
,
querido. Eles nos visitaram quando morávamos em Buckingham
..."


Q
uem
são...


São
amigos de meus pais. Quando éramos crianças, eu
brincava com ele na piscininha de plástico.


Claro,
só podia ser, sua sacaninha - grunhiu ele.

Você quer jantar?

Equilíbrio
interior, repeti para mim mesma, equilíbrio interior.


Vamos,
Bridge - disse ele, fazendo olhares sedutores. - Preciso conversar
seriamente sobre a sua blusa. É fina demais. Quando se olha
com atenção, é tão fina que fica
transparente. Nunca te ocorreu que sua blusa pode estar sofrendo
de...
bulimia
?


Tenho
um encontro - disse, assustada.


Vamos,
Bridge.


Não
- respondi, com uma firmeza que me surpreendeu.


Que
pena - disse ele, suavemente. - Vejo você na segunda-feira - e
me lançou um olhar tão ofendido que quase fui atrás
dele gritando: "Transa comigo! Transa comigo!"

23h.
Acabo de ligar para Jude e contar do encontro com Daniel e também
do filho de Malcolm e Elaine Darcy, com quem mamãe e Una
tentaram me obrigar a ficar no bufê de peru ao
curry
e que no lançamento me pareceu bem mais atraente.


Espera
aí - disse Jude. - Você está falando de Mark
Darcy? O advogado?


Esse
mesmo. Mas ... você conhece?


Bom,
conheço. Quer dizer, tratamos uns processos Com ele. É
muito simpático e atraente. Entendi você dizer que o
cara do bufê de peru ao
curry
era um chato de galocha.

Hum. Essa Jude.

SÁBADO,
22 de abril.
54kg,
0 cigarro, 0 unidade alcoólica, 1.800 calorias.
Hoje
é um dia histórico e muito feliz. Depois de 18 anos
tentando pesar 54 quilos, consegui. Os ponteiros da balança
não estão enganados, meu jeans confirmou. Eu estou
magra.

Não
existe uma explicação plausível. Fiz duas aulas
de ginástica na semana passada mas isso, embora seja raro, não
é suficiente. Comi como sempre, normal. É um milagre.
Liguei para Tom: ele achou que posso estar com uma solitária.
Disse que para me livrar dela devo segurar uma xícara de leite
quente e um lápis na frente da boca. (Consta que solitárias
adoram leite quente). Abrir a boca e, quando a cabeça da
solitária aparecer, deixar que ela se enrosque no lápis.


Escuta
- falei - essa solitária vai continuar onde está. Gosto
muito dela. Fez com que eu emagrecesse, perdesse a vontade de fumar e
de tomar vinho.


Você
está apaixonada? - perguntou Tom de um jeito desconfiado e
ciumento. É sempre assim. Não é que queira ficar
comigo, claro, ele é
gay
.
Mas, se você é solteiro, a última coisa que
deseja é que sua melhor amiga tenha uma relação
estável com um homem. Pensei bem, depois parei, surpresa com
uma súbita e estranha conclusão. Não estou mais
apaixonada pelo Daniel. Estou livre.

TERÇA-FEIRA,
25 de abril.

54kg,
0 unidade alcoólica (excelente), 0 cigarro (m. m. b.), 995
calorias (continuo indo bem).
Argh.
Esta noite fui a uma festa na casa de Jude usando um vestido preto
justo para, orgulhosa, exibir mmha silhueta.


Puxa,
você está se sentindo bem? - perguntou Jude quando
cheguei.

Está com uma aparência cansada. .


Estou
ótima, perdi três quilos. Por quê? - respondi,
desconcertada.


Nada.
Eu pensei que ...


O
quê? O quê?


Que
talvez você tenha emagrecido um pouco ... no rosto - ela
disfarçou, olhando para meu peito murcho.

Simon teve a mesma
reação.


Bridgiiiiit!
Você tem um cigarro?


Não,
parei de fumar.


Ah,
puxa, é por isso que está parecendo tão ...


Tão
o quê?


Ah,
nada, nada. Um pouquinho ... abatida.

Foi
assim a noite inteira. Nada pior do que ouvir que você está
com uma cara cansada. Era a mesma coisa que dizer que pareço
um cocô. Fiquei muito satisfeita comigo mesma por não
beber mas, lá pelo meio da festa, quando todo mundo estava
bêbado, comecei a me sentir tão calma e sem sal que
aquilo estava quase me irritando. Continuei participando das
conversas, mas não conseguia dizer uma palavra, só
ficava olhando e concordando de um jeito sério e desligado.

A
certa altura, perguntei para Jude:


Você
tem chá de camomila? - quando ela passou por mim, tropeçando
e dando uns soluços. Começou a rir sem parar, me
abraçou e caiu. Achei que era hora de ir.

Quando
cheguei em casa, fui para a cama e coloquei a cabeça no
travesseiro, mas nada aconteceu. Fiquei virando de um lado para
outro, sem conseguir dormir. Em geral, a essa altura eu já
estaria roncando e tendo algum sonho paranóico. Acendi o
abajur. Eram apenas onze e meia. Talvez fosse bom eu fazer alguma
coisa como, ahn ... costurar? Equilíbrio interior. O telefone
tocou. Era Tom.


Você
está bem?


Estou
ótima. Por quê?


Você
parecia tão, digamos, desanimada. Todo mundo comentou que nem
parecia você.


Não,
eu estava ótima. Você reparou como estou magra? -
Silêncio.

Tom?


Acho
que você estava melhor antes, meu bem.

Agora
me senti oca e confusa, como se tivessem puxado o tapete sob meus
pés. Dezoito anos - em vão. Dezoito anos de calorias e
somas de unidades calóricas. Dezoito anos comprando saias
compridas e blusas largas e saindo dos lugares de costas para
esconder o traseiro. Milhões de bolos de queijo e
tiramisus
,
dezenas de milhares de fatias de queijo emental que deixei de comer.
Dezoito anos de luta, sacrifício, inanição -
para quê? Dezoito anos e o resultado é "cansada e
desanimada". Estou me sentindo como um cientista que descobre
que o trabalho ao qual dedicou uma vida inteira foi um engano
total.

QUINTA-FEIRA,
27 de abril.
0
unidade alcoólica, 0 cigarro, 12 bilhetes de loteria
(m.m.ruim, mas não me pesei, nem pensei em dieta o dia
inteiro, m.b.)
Tenho
de parar de comprar os bilhetes de loteria, mas o problema é
que quase sempre sou premiada. Os bilhetes são muito melhores
do que a loto, porque os números sorteados não aparecem
mais durante o programa
Encontro
marcado
(temporariamente
fora do ar) e em geral você não acerta só um
número e fica com uma sensação de impotência
e palermice, tendo uma única coisa a fazer: rasgar o bilhete
com ódio e jogá-lo no chão para todo mundo ver.

Os
bilhetes são diferentes, é um jogo mais interativo, com
seis números para serem riscados - o que é difícil
e complicado de fazer -, e você nunca fica com a sensação
de não ter participado. Ganha quem tira três somas
iguais, e sempre consigo chegar perto, uma vez tirei duas fileiras -
e os prêmios chegam a 50 mil libras.

Mas você não
pode se privar de todos os prazeres da vida. Eu só compro uns
cinco ou seis bilhetes por dia e, além do mais, vou parar
logo.

SEXTA-FEIRA,
28 de abril.

14
unidades alcoólicas, 64 cigarros, 8.400 calorias (m.b.,mas foi
errado contá-las. Obsessão de emagrecer mto ruim), 0
bilhetes de loteria.
Às
oito e meia da noite passada, eu estava tomando um banho relaxante de
aromaterapia e bebendo chá de camomila quando soou o alarme
contra roubo de um carro. Esses alarmes são insurportáveis
e inúteis; liderei uma campanha na nossa rua contra eles, já
que é mais provável você achar seu carro amassado
por um vizinho mal-humorado que foi tentar desligar o alarme do que
ter o carro roubado por um ladrão propriamente dito.

Dessa
vez, ao invés de me irritar e chamar a polícia, eu
apenas respirei fundo com as narinas bem abertas e murmurei
"equilíbrio interior". Tocou a campainha da porta.
Peguei o interfone. Uma voz muito educada e suave dise: "Ele
está tendo um caso." Depois ouvi um choro histérico.
Desci as escadas do prédio correndo e encontrei Magda
derramando cascatas de lágrimas sobre o volante do Saab
conversível de Jeremy, que fazia pii-pii-pii altíssimo
com todas as luzes piscando, enquanto o bebê berrava como se
estivesse sendo estrangulado no assento traseiro.

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