O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (16 page)

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Authors: Helen Fielding

BOOK: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES
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O
quê? Bridget? Não estou ouvindo. Você está
discutindo com um policial de uniforme azul?


Não
- expliquei - Estou falando da linha azul do teste de
gravidez
.


Meu
Deus. Encontro você no Café Rouge daqui a quinze
minutos.

Embora
fosse apenas quinze para a uma, achei que não tinha problema
algum tomar uma vodca com suco de laranja, já que se tratava
de uma emergência real, mas lembrei que o bebê não
devia tomar vodca. Esperei, me sentindo como uma espécie de
hermafrodita fazendo um jogo contraditório em que tinha
sentimentos simultâneos de pai e mãe em relação
ao bebê. Por um lado, eu estava toda encantada e dengosa em
relação a Daniel, contente de ser uma mulher de verdade
- de uma fertilidade tão avasaladora! - e imaginando a pele
rosada e macia do bebê, uma coisinha tão linda, usando
elegantes roupinhas de bebê da Ralph Laurent. Por outro lado,
eu pensava, ai, meu Deus, minha vida acabou, Daniel é um
alcoólatra maluco e quando souber da gravidez vai me matar e
me dar o fora. Acabaram-se as noites de papo com as garotas, as
compras, a azaração, o sexo, as garrafas de vinho e os
cigarros. Vou virar uma horrenda máquina de ordenha na qual
ninguém vai achar graça e que não vai caber em
nenhuma calça, principalmente no meu
jeans
verde ácido novo da Agnés B. Acredito que esta confusão
é o preço que tenho a pagar por ser uma mulher moderna,
em vez de seguir o curso da natureza e ter casado aos 18 anos com
Abnor Rimmington, recém-chegada de Northampton.

Quando
Sharon chegou, mostrei por baixo da mesa, fazendo uma cara feia, o
bastão do teste com sua denunciadora linha azul.


É
isso? - perguntou ela.


Claro
- respondi.

O que você acha que é? Um telefone celular?


Você
é ridícula - disse ela.

Não leu as instruções de uso? Precisa ter duas
linhas azuis. Essa linha é só para mostrar que o teste
está funcionando. Uma linha quer dizer
que você
não
está grávida, sua boba.
Quando cheguei em casa, a
secretária eletrônica tinha um recado da minha mãe
dizendo:


Querida,
ligue já. Meus nervos estão em
frangalhos
.

Os
nervos
dela
estão em frangalhos!

SEXTA-FEIRA,
5 de maio.
57kg
(ah, maldição, não consigo vencer o hábito
secular de me pesar, principalmente depois do trauma da gravidez - um
dia faço algum tipo de terapia por causa disso), 6 unidades
alcoólicas (viva!), 25 cigarros, 1.895 calorias, 3 bilhetes de
loteria.
Passei a
manhã toda devaneando, com pena de não estar grávida,
e só me animei um pouco quando Tom ligou e sugeriu um
bloody
mary
no almoço
para começar um fim de semana saudável. Quando voltei
para casa, encontrei um recado zangado de minha mãe dizendo
que ia para um
spa
e na volta me ligava. Me pergunto qual é o problema. Ela deve
estar soterrada por caixas e caixas de jóias da Tiffany's
enviadas pelos admiradores e cheia de ofertas de emprego das
emissoras rivais.
23h45.
Daniel acaba de ligar de Manchester.


Como
foi a sua semana? Boa? - perguntou.


Ótima,
obrigada - garanti, alegre. Ótima, obrigada. Argh! Li em algum
lugar que o melhor presente que urna mulher pode dar para um homem é
sossego. Então eu não podia admitir que, assim que ele
saiu de perto de mim depois de começarmos a sair direito, eu
virei urna neurótica om mania de gravidez.

Bem, não
importa. Vamos nos encontrar amanhã à noite. Oba!

SÁBADO,
6 DE MAIO, DIA DA VITÓRIA DA EUROPA (VE)
57,6kg,
6 unidades alcoólicas, 25 cigarros, 3.800 calorias
(comemorando o fim do racionamento de comida durante a guerra), 0
acerto na loteria (ruim).
Hoje,
Dia VE, acordei sentindo uma onda de calor fora de hora, tentando
compartilhar a emoção do fim da guerra, a Iiberdade da
Europa, que coisa maravilhosa, incrível etc., etc. Para ser
sincera, não estou nada bem em relação a essa
história toda. A palavra mais adequada deve ser "largada".
Não tenho avós maternos nem paternos. Papai já
combinou ir a uma reunião no jardim dos Alconbury onde, por
razões ignoradas, ele vai virar as panquecas. Mamãe vai
voltar à rua onde morou quando criança, em Cheltenham,
para uma festa de bolinho de carne de baleia, provavelmente
acompanhada de Julio. (Graças a Deus, ela não fugiu com
um alemão.)

Nenhum
dos meus amigos está organizando nada. Mas participar das
comemorações seria constrangedor e pouco adequado, um
excesso de otimismo, parece que estamos querendo festejar uma coisa
que não tem nada a ver conosco. Pois é claro que eu não
era nem um ovo quando a guerra terminou, não era nada,
enquanto todas as pessoas da época lutavam e faziam geléia
de cenoura ou sei lá o quê.

Detesto
pensar nisso e cogito ligar para mamãe perguntando se ela já
ficava menstruada quando a Guerra terminou. Será que os óvulos
são produzidos um de cada vez, ou ficam armazenados em
microfôrmas uterinas até serem ativados? Será
que, sendo eu um óvulo armazenado, pude perceber que a guerra
tinha acabado? Se ao menos eu tivesse um avô, poderia
participar dessa história, fazendo de conta que estava sendo
gentil em acompanhá-lo
nas comemorações. Ah,
dane-se, melhor ir às compras.

19h
.
O calor fez meu corpo dobrar de tamanho, juro. Nunca mais vou
experimentar roupa numa cabine coletiva. Quando tentei enfiar um
vestido na loja Warehouse, ele ficou preso nos braços e virou
do avesso, meus braços ficaram abanando, a barriga e as coxas
à mostra para garotas de 15 anos, que disfarçaram para
não rir de mim. Tentei tirar a droga do vestido pelas pernas,
mas ficou preso no quadril.

Detesto
cabines coletivas. Cada garota dá uma olhada disfarçada
no corpo das outras e sempre tem umas que sabem que ficam ótimas
com qualquer roupa e ficam dando voltas muito felizes, balançando
o cabelo e fazendo pose de modelo no espelho, dizendo "Será
que essa roupa me engorda?" para sua amiga gorda obrigatória
que parece uma vaca com qualquer roupa.

As
compras foram um desastre. Sensato, eu sei, seria apenas comprar
algumas coisas essenciais na Nicole Farhi, Whistles e Joseph, mas os
preços estavam tão assustadores que voltei rápido
para a Warehouse e a Miss Selfridge, onde consegui achar uns vestidos
por 34 libras e 99 centavos, fiquei presa neles e acabei comprando na
Marks and Spencer porque lá não preciso experimentar, e
assim pelo menos não voltei para casa de mãos abanando.

Comprei
quatro coisas, todas feias e sem graça. Uma vai ficar atrás
da cadeira do quarto numa sacola da Marks & Spencer durante dois
anos. As outras três serão trocadas por vales da Boules,
Warehouse etc., que depois eu perco. Assim, acabo de gastar 119
libras, que davam muito bem para comprar alguma coisa ótima na
Nicole Farhi, como uma camisetinha de algodão.

Eu
sei que estou fazendo isso apenas para me punir, por ter mania de
comprar de uma forma fútil e consumista, em vez de vestir o
mesmo vestido sintético o verão todo e pintar uma linha
atrás das pernas, como faziam as mulheres durante a guerra
para fingir que estavam de meias. Compro também por não
conseguir participar das comemorações do Dia Vitória
da Europa. Talvez fosse bom eu ligar para Tom e sugerir uma boa festa
para o feriado de segunda-feira. Será que dá para fazer
uma festa cafona no Dia VE - como no casamento real? Não, não
se pode brincar com mortos. E é preciso considerar também
o problema da bandeira britânica. A metade dos amigos de Tom
participou da liga antinazista e acharia que usar a bandeira
britânica na festa ia parecer que esperávamos a presença
de
skinheads
.
Fico imaginando como seria se nossa geração tivesse
passado por uma guerra. Bom, hora de um drinquezinho. Daniel chega
daqui a pouco. É melhor começar os preparativos.

23h59.
Droga. Estou escondida na cozinha fumando um cigarro. Daniel dorme.
Aliás, acho que está fingindo. Passamos uma noite
completamente
esquisita. Percebi que, até o momento, nossa relação
baseou-se no fato de um de nós estar resistindo a fazer sexo.
Ontem, ficamos juntos, com a
suposta
idéia de que obviamente faríamos sexo no final da
noite. Sentamos na frente da televisão e assistimos às
comemorações do Dia VE. Daniel colocou o braço
no meu ombro de um jeito incômodo, como se fôssemos dois
adolescentes no cinema. O braço ficou enfiado na minha nuca.
Mas não tive coragem de pedir para tirar. Depois, quando foi
impossível não falarmos em ir para a cama, ficamos
muito formais, bem britânicos. Em vez de um tirar a roupa do
outro de um jeito selvagem, entabulamos o seguinte diálogo:


Pode
usar o banheiro primeiro.


Não!
Por favor, vou depois de você!


Não,
eu insisto.


De
jeito nenhum. Vou pegar uma toalha de visita para você e um
sabonetinho em forma de concha.

Acabamos
dormindo na mesma cama sem nos tocarmos, como se fôssemos
Joãozinho e Maria ou a bela adormecida e o sapo. Se Deus
existe, eu gostaria de, primeiro, deixar bem claro que estou muito
grata por Ele fazer com que, de repente, a relação com
Daniel se transformasse numa coisa normal, depois de tanta babaquice.
A seguir, eu humildemente pediria para Ele não deixar Daniel
ir para a cama de pijama e óculos, passar 25 minutos lendo um
livro, desligar o abajur e virar de lado - mas que Deus faça
com que Daniel volte a ser aquele animal desembestado, louco por
sexo, que eu conhecia e gostava.

Senhor, agradeço
antecipadamente Suas providências em relação ao
tema.

SÁBADO,
13 DE MAIO
57,8kg,
7 cigarros, 1,145 calorias, 5 bilhetes de loteria (ganhei 2 libras,
portanto, perdi apenas 3, m.b.), 2 libras gastas na loteria, números
certos: 1 (melhor)
Como
posso ter engordado só 200 gramas depois da orgia astronômica
da noite passada?

Pode
ser que a comida e o peso tenham a mesma relação que
alho e bafo insuportável: se você come vários
dentes de alhos, não fica com o hálito ruim, da mesma
forma que se comer muito não engorda. É uma tese
estranha e animadora, mas cria uma tremenda confusão na
cabeça. Gostaria que me fizessem uma faxina completa. Mas a
noitada valeu a pena, com uma maravilhosa discussão feminista
e bêbada com Sharon e Jude.

Comemos
à beça e tomamos muito vinho, já que cada uma
das generosas garotas trouxe uma garrafa de vinho, além de
umas comidinhas da Marks and Spencer. Assim, além de um jantar
de três pratos, duas garrafas de vinho um espumante e um
branco) e mais o que eu já tinha comprado na M&S (quer
dizer, preparado depois de um dia inteiro em volta do forno),
comemos:

1
pacote de pasta de grão-de-bico e minipães árabes.

12
rolinhos de salmão defumado com queijo cremoso.

12 minipizzas.

1 torta de amora.

1
tiramisu
(tamanho festa).

2 barras de
chocolate suíço.

Sharon
estava muito inspirada. Às 8h35 da noite já estava
xingando" Malditos!" e tomando num só gole mais de
meia taça de Kir Royale.


Burros,
arrogantes, interesseiros, comodistas. Agem de acordo com uma cultura
de Direitos Adquiridos. Passa uma minipizza, por favor?

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