O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (19 page)

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Authors: Helen Fielding

BOOK: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES
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O
problema de sair com as pessoas quando você fica mais velha é
que tudo fica muito opressivo. Se você está sem
companhia aos 30 anos, a chateação menor de não
ter um namorado - não ter sexo, ninguém para sair no
domingo, chegar das festas sempre sozinha - fica ligada à
idéia paranóica de que você não tem
namorado por causa da idade, já teve o último namorado
e a última transa da sua vida e é tudo culpa sua, por
ser tão agressiva ou tão teimosa e não ter
sossegado o rabo quando era jovem.

Você
esquece completamente que quando tinha 22 anos, e durante 23 meses
não namorou nem saiu com ninguém, pensava que era só
um pouco chato. A situação fica complexa, e ter uma
relação parece complicado, como se fosse uma meta quase
inatingível, e quando você começa a sair com
alguém isso nunca poderá corresponder às suas
expectativas.

Será
que é isso? Ou será que tem alguma coisa errada entre
mim e Daniel? Será que ele está tendo um caso?
11h50.
Humm. A unha está
mesmo
lascada. Se não consertar, vou começar a roer e daqui a
pouco não tenho mais unha. Certo, é melhor achar uma
lixa. Pensando melhor, esse esmalte está um horror. É
melhor tirar tudo e passar outro. E agora, já que estou
pensando nisso.
Meio-dia.
É horrível quando está fazendo tanto calor e o
seu
soi-disant
namorado não quer ir a nenhum lugar agradável.

Acho
que ele pensa que estou tentando agarrá-lo para uma miniviagem
como se no fundo eu quisesse um casamento, três filhos e limpar
o banheiro de uma casa cheia de móveis coloniais em Stoke
Newington. Acho que essa história está se transformando
numa crise psicológica. Vou ligar para Tom (dá para eu
fazer à noite o tal catálogo da Perpétua).
12h30.
Humm. Tom diz que se você faz uma pequena viagem com quem está
tendo um caso e passa o tempo todo preocupada com a relação,
é melhor ir com um amigo.

Fora o sexo, digo.
Fora o sexo, concorda ele. Encontrarei Tom à noite e levarei
os folhetos para sonharmos com uma pequena viagem.

Por
isso tenho de trabalhar duro esta tarde.
12h40.
Estes
shorts
e camisetas são tão desconfortáveis no calor.
Vou trocar por um vestido longo e vaporoso.

Ai,
Deus, minhas calcinhas aparecem por baixo desse vestido. É
melhor usar calcinhas cor da pele caso alguém bata na porta.
Minhas calcinhas Gossard brilhantes ficariam perfeitas. Onde estarão
elas?
12h45.
Melhor ainda seria usar o sutiã brilhante para combinar, se eu
conseguir achá-lo.
12h55.
Assim está melhor.
13h
.
Hora do almoço! Finalmente uma pausa no trabalho.
14h.
Muito bem, esta tarde vou mesmo trabalhar e fazer tudo até a
noite, assim posso sair. Mas estou com um sono. Está tão
quente. Vou fechar os olhos cinco minutos. Dizem que tirar um cochilo
é a melhor forma de recuperar as energias. Causava ótimo
efeito em Margaret Thatcher e Winston Churchill. Boa idéia.
Talvez eu deite na cama.
19h30.
Ai, droga.

SEXTA–FEIRA,
9 DE JUNHO

58 kg, 7 unidades
alcoólicas, 22 cigarros, 2.145 calorias, 230 minutos
examinando o rosto para descobrir rugas.

9h.
Oba! Hoje à noite vou sair com as garotas.
11h.
Ai, não. O programa mudou: Rebecca também vai. Sair com
ela é como nadar onde tem água-viva: vai tudo muito bem
até que, de repente, você é atacada e acaba toda
a graça. O problema é que as alfinetadas de Rebecca
atingem direto o calcanhar-de-aquiles das pessoas, como se fossem os
mísseis da Guerra do Golfo fazendo fzzzzuuuuch pelos
corredores dos hotéis de Bagdá. Sharon diz que não
tenho mais 24 anos e devia estar mais madura para lidar com Rebecca.
Tem razão.
Meia-noite.
Ai, Deusé horrível. Tô velhe acabada.
Endecomposição.

SÁBADO,
10 DE JUNHO
Argh.
Acordei me sentindo feliz (ainda bêbada de ontem à
noite) e, de repente, lembrei do pavor que virou a noite passada com
as garotas. Depois da primeira garrafa de Chardonnay, eu ia tocar no
tema da minha frustração constante de não
conseguir passar um fim de semana fora, quando Rebecca perguntou:


Como
vai Magda?


Ótima
- respondi.


Ela
é tão bonita, não?


Ahn-ahn
- concordei.


E
parece tão jovem, pode passar por 24 ou 25 anos. Vocês
foram colegas de escola, não? Ela era três ou quatro
anos atrás de você?


Ela
tem seis meses mais que eu - falei, sentindo os primeiros sinais de
alfinetada.


É
mesmo? - duvidou Rebecca, depois fez uma longa e constrangedora
pausa.

Bom, Magda tem sorte. A pele dela é maravilhosa.

Senti
o sangue coagulando no cérebro ao perceber a horrível
verdade que Rebecca tinha dito.


Quer
dizer, ela não ri tanto quanto você. Talvez por isso não
tenha tantas rugas.

Segurei
na mesa para não cair, tentando continuar respirando.

Me
dei conta de que estava ficando velha antes do tempo. Como num filme
acelerado, mostrando uma uva transformando em passa.


Como
vai sua dieta, Rebecca? - perguntou Sharon.

Argh.
Em vez de contestar meu envelhecimento precoce, Jude e Sharon estavam
aceitando aquilo como fato consumado e tentando diplomaticamente
mudar de assunto para me poupar. Sentei, sentindo que entrava numa
espiral de terror, e apoiei meu rosto decadente nas mãos.


Vou
ao banheiro - avisei, com a boca quase fechada como uma ventríloqua
e o rosto duro para impedir o aparecimento das rugas.


Está
tudo bem, Bridget? – perguntou Jude.



- respondi, rápido.

Quando
olhei no espelho, fiquei pasma com a luz forte sobre minha cabeça
mostrando minha pele dura, marcada pelo tempo, derretendo. Fiquei
imaginando as garotas na mesa censurando Rebecca por dizer o que todo
mundo comentava faz tempo, mas que eu não precisava saber, de
repente, tive uma vontade enorme de sair pelo restaurante perguntando
a todos os presentes que idade achavam que eu tinha. Fiz isso uma vez
na escola, quando me convenci de que era débil mental e fiquei
perguntando para todas as colegas no recreio "Você acha
que sou débil?" e 28 delas responderam "Acho".

Quando
você começa a pensar em envelhecimento, não tem
jeito. A vida de repente fica parecendo com as férias:da
metade em diante, os dias voam rumo ao último dia. Preciso
fazer alguma coisa em relação ao processo de
envelhecimento, mas o quê? Não tenho dinheiro para
cirurgia plástica. E fico numa situação tipo
faca de dois gumes já que tanto engordar quanto emagrecer
provocam o envelhecimento.

Por
que eu pareço velha? Por quê? Fico olhando as velhinhas
na rua, tentando entender todos os mínimos processos que fazem
os rostos envelhecerem. Percorro os jornais procurando a idade de
todo mundo, querendo ver se as pessoas parecem com a idade que
têm.
11h.
O telefone tocou. Era Simon, querendo contar da garota na qual está
interessado.


Quantos
anos ela tem? - perguntei, desconfiada.


Vinte
e quatro.

Aaargh,
aaargh. Cheguei na idade em que os homens não acham mais as
contemporâneas atraentes.
16h.
Vou tomar chá com Tom. Resolvi que preciso dedicar mais tempo
à aparência, como fazem as estrelas de Hollywood. Por
isso fiquei horas passando creme antiolheiras,
blush
nas maçãs do rosto e disfarçando tudo o que está
ruim.

Quando
cheguei, Tom exclamou, assustado:


Meu
Deus.


O
que foi? O quê? - perguntei.


Sua
cara. Você está parecendo a Barbara Cartland.

Comecei
a piscar, tentando aceitar que alguma terrível bomba do tempo
tinha definitivamente se instalado sob minha pele. .


Pareço
mais velha do que sou, não? - perguntei, deprimida.


Não,
parece uma menina de cinco anos que usou todas as pinturas da mãe
- disse ele.

Olha ali no espelho.

Olhei
no falso espelho vitoriano da casa de chá. Eu parecia um
palhaço exagerado, de bochechas vermelhas, olhos como dois
corvos negros e mortos e, sob eles, uma mancha branca como os
rochedos de Dover. Só então compreendi por que as
velhinhas usam tanta maquiagem e todo mundo fica rindo delas. Resolvi
que não riria mais.


O
que está acontecendo? - perguntou ele.


Estou
ficando velha antes do tempo - murmurei.


Ah,
pelo amor de Deus. Você está assim por causa da droga da
Rebecca, não é? - adivinhou ele.

Sharon me contou do comentário
sobre a Magda. É ridículo. Você parece ter 16
anos.

Adoro Tom. Desconfio
que ele estava mentindo, mas fiquei bem feliz porque se eu parecesse
ter 45 anos ele não ia dizer que pareço ter 16.

DOMINGO,
11 DE. JUNHO
56,7kg
(muito bom, está calor demais para comer), 3 unidades
alcoólicas, 0 cigarro (m.b.,está calor demais para
fumar) 759 calorias (só de sorvete).
Mais
um domingo perdido. Parece que estou condenada a passar o verão
inteiro assistindo a jogos de críquete com as cortinas da sala
fechadas. Fico meio inquieta no verão, mas não é
só por causa das cortinas fechadas nos domingos e porque
Daniel não quer passar um fim de semana fora. À medida
que os dias longos e quentes se seguem, um atrás do outro,
sinto que estou sempre fazendo uma coisa, mas,deveria estar fazendo
outra. É um sentimento que faz parte da mesma família
daquele que te faz achar que, pelo fato de morar em Londres, deveria
estar assistindo a um espetáculo na Royal Shakespeare Company,
um concerto no Albert Hall, visitando a Torre de Londres,
freqüentando a Royal Academy, indo ao Museu Madame Tussaud, em
vez de ficar de bar em bar se divertindo.

Quanto
mais brilha o sol, mais óbvio fica que as outras pessoas estão
sabendo como aproveitar
melhor
o tempo em algum lugar - assistindo a um grande jogo de softball com
todo mundo lá, menos eu; passeando com seu amor num atalho da
floresta, junto de uma cachoeira onde muitos Bambis aparecem;
participando de algum grande evento público com a presença
da Rainha-Mãe e de um daqueles tenores que cantam em estádios,
para marcar este verão intenso que não estou
conseguindo aproveitar. Talvez seja culpa do nosso passado climático.
Talvez nós, ingleses, ainda não tenhamos adquirido a
capacidade de conviver com sol e céu azul sem nuvens, o que é
mais do que um mero acaso. Ainda existe dentro de nós um
instinto de entrar em pânico, querer sair do escritório,
ficar quase nu e correr para a saída de incêndio.

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