O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (30 page)

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Authors: Helen Fielding

BOOK: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES
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Levei
um susto quando cheguei na casa de Mark Darcy para a festa: não
era uma simples casa branca com terraço na rua Portland ou
similar, como eu imaginava, mas uma enorme casa estilo bolo de noiva,
do outro lado da avenida Holland Park (onde dizem que mora o
teatrólogo Harold Pinter), no meio de jardins.

Sem dúvida,
ele caprichou na festa para os pais. Todas as árvores estavam
iluminadas com lâmpadas vermelhas e guirlandas de corações
vermelhos, lindo, e havia um caminho coberto com toldo vermelho e
branco até a entrada da casa.

Quando
chegamos na porta, as coisas ficaram ainda mais requintadas: uma
equipe de recepção nos serviu champanhe e recebeu os
presentes (comprei um CD com as músicas românticas de
Perry Como do ano que Malcolm e Elaine se casaram, mais um queimador
de óleo aromático da loja Body Shop para ela, que
durante o bufê do peru ao
curry
perguntou onde comprei o meu). Depois os convidados eram conduzidos
até uma escadaria de madeira que formava uma curva e tinha os
degraus iluminados por velas em forma de coração. No
andar de baixo havia um amplo salão de tacos de madeira escura
e uma estufa que abria para o jardim. O salão inteiro era
iluminado por velas. Papai e eu ficamos parados olhando, sem
conseguir falar.

Em
vez dos aperitivos que eram de se esperar num coquetel da geração
de meus pais - com pratos de vidro oferecendo diversos tipos de
pepino em conserva, ou palitinhos de queijo e abacaxi espetados em
grapefruits
-, havia enormes bandejas de prata com camarões gigantes,
minitortas de tomate, mozarela e frango. Os convidados pareciam não
acreditar que estavam ali, felicíssimos. Mas Una Alconbury
estava com cara de quem acabou de chupar um limão. Quando
papai a viu, concluiu:


Ah,
querida, não tenho certeza se mamãe e Una vão
gostar desta festa.


Um
pouco exagerado, não? - perguntou Una, ajeitando a estola nos
ombros, meio mal-humorada.

Se você exagera, as coisas acabam ficando vulgares.


Ah,
isso não é verdade, Una. A festa está
maravilhosa - aparteou meu pai, servindo-se do décimo nono
canapé.


Humm,
concordo - falei, com a boca cheia de minitorta e com minha taça
de champanhe sendo completada pelo garçom sem eu nem perceber.

Está superótimo.

Depois
de passar horas preocupada por causa do duas-peças da Jaeger,
fiquei eufórica. Ninguém nem perguntou por que eu ainda
não tinha casado.


Arf
- gemeu Una.

Mamãe
estava prestando atenção em nós.


Bridget,
já falou com Mark? - perguntou, bem alto.

De
repente lembrei que Una e mamãe deviam estar perto de fazer
bodas de rubi. Conheço mamãe, por isso é pouco
provável que um pequeno detalhe como largar o marido para
ficar com um guia turístico vá atrapalhar as
comemorações. Ela também não vai deixar
que Elaine Darcy faça uma festa melhor - mesmo que o custo
seja um casamento de conveniência de uma filha indefesa.


Agüenta
firme, meu bem - disse papai, apertando meu braço.


Que
casa linda. Você não tem uma estola bonita para colocar
nos ombros, Bridget? O quê, seu pai está com caspa? -
constatou mamãe, batendo nas costas dele.

Escute, querida por que você ainda não falou com Mark?


Bom,
eu... - resmunguei.


O
que você acha da decoração, Pam? - sussurrou Una.


Exagerada
- respondeu mamãe, baixinho, fazendo um movimento com os
lábios que mostrava certo desprezo.


Exatamente
o que eu achei - concordou Una, feliz.


Não
foi, Colin? Exagerada.

Dei
uma olhada em volta e quase morri de susto. Mark Darcy estava a dez
passos, olhando para nós. Devia ter ouvido tudo. Abri a boca
para dizer alguma coisa – não sei bem o quê - e
melhorar a situação, mas ele se afastou.

O
jantar foi servido na "Sala de estar" do térreo e na
fila das escadas, fiquei exatamente atrás de Mark Darcy.


Olá
- cumprimentei, tentando amenizar a grosseria de mamãe. Ele
deu uma olhada em volta, sem tomar conhecimento de mim, e olhou de
novo para trás.

Olá - repeti, dando uma leve cutucada nele.


Ah,
olá. Desculpe, não tinha visto você - explicou.


Que
festa ótima. Obrigada por me convidar - falei.

Ele ficou me
olhando.


Ah,
não fui eu, foi minha mãe que convidou - disse.


Agora
tenho de, bem, cuidar de colocar as pessoas nas mesas. Gostei muito
da sua reportagem sobre o Corpo de Bombeiros de Lewisham - completou
ele, subindo as escadas, passando entre os convidados e se
desculpando enquanto eu ficava ali, sem saber o que fazer. Argh.

Quando
ele chegou no alto da escada, Natasha surgiu num incrível
vestido de cetim dourado, dependurou-se no braço dele e, sem
querer, bateu numa das velas, que espirrou cera vermelha na barra de
sua roupa.


Merda
- reclamou.

Merda.

Os
dois sumiram, mas dava para ouvir a voz dela reclamando.


Eu
disse, foi ridículo passar a tarde inteira colocando velas em
lugares onde as pessoas podiam tropeçar. Teria sido melhor
você usar seu tempo verificando o lugar dos convidados nas
mesas.

Por
incrível que pareça, as pessoas estavam muito bem
colocadas. O lugar de mamãe não era perto de papai nem
de Julio, mas de Brian Enderby, com quem ela sempre gostou de fazer
charme. Julio estava ao lado da elegante tia cinqüentona de
Mark, que exultou de felicidade. Papai ficou azul de alegria por ter
sido colocado ao lado de uma linda oriental. Eu estava toda animada.
Quem sabe ficava sentada entre dois belos amigos de Mark Darcy,
grandes advogados, ou mesmo americanos nascidos na tradicional
Boston. Mas, quando fui procurar meu nome no mapinha das mesas, ouvi
uma voz conhecida falando à minha direita.


Então,
como vai minha Bridgezinha? Sou um homem de sorte: me colocaram ao
seu lado na mesa. Una me contou que você terminou o namoro.
Arre! Quando é que vamos conseguir casar você?


Espero
que, quando conseguirem, eu celebre a cerimônia religiosa -
disse uma voz à minha esquerda.

Eu poderia usar um novo paramento. Hum, de seda creme. Ou talvez uma
linda batina fechada com 39 botõezinhos da etiqueta
Gamirellis.

Mark
tinha tido o cuidado de me colocar entre Geoffrey Alconbury e o padre
gay
.

Mas,
depois de bebermos um pouco, a conversa ficou bem animada. Perguntei
ao padre o que ele achava do milagre das imagens indianas de Ganesh,
o deus-elefante, que bebiam leite. Ele respondeu que as autoridades
eclesiásticas achavam que o milagre na imagem de barro era
causado pelo calor de um verão muito quente alternado com dias
frios.

Quando
o jantar terminou e as pessoas começaram a descer para dançar
no andar de baixo, fiquei pensando no que o padre disse. Curiosa, e
temendo ser obrigada a dançar
twist
com Geoffrey Alconbury, pedi licença e discretamente peguei
uma colher de chá e um potezinho de leite da mesa e entrei no
quarto onde os presentes estavam expostos, comprovando o que Una
tinha dito sobre tudo ser muito exagerado.

Levei
algum tempo para conseguir achar meu queimador de óleo
aromático, que tinha sido colocado num canto e, quando o vi,
derramei um pouco de leite na colher e pus no lugar onde fica a vela.
Incrível. O queimador estava bebendo o leite. Dava para ver o
leite sumindo.


Meu
Deus, é um milagre! - gritei, sem imaginar que, exatamente
nessa hora, Mark Darcy estava passando.


O
que está fazendo? - perguntou ele, da porta.

Eu
não sabia o que dizer. Claro que ele deve ter achado que eu
estava querendo roubar algum presente.


Hein?
- insistiu.


O
queimador de óleo que dei para sua mãe está
bebendo o leite - murmurei, incrédula.


Ah,
não seja boba - disse ele, rindo.


Está
- falei, indignada.

Olhe.

Coloquei
mais um pouco de leite na colher, derramei no queimador e ele foi
sumindo.


Está
vendo? É um milagre - constatei, orgulhosa.

Ele
ficou muito intrigado, tenho certeza.


Você
tem razão, é um milagre - disse, devagar.

Nesse
instante, Natasha apareceu na porta e, ao me ver, cumprimentou:


Olá.
Hoje não está de coelhinha, não? - e deu uma
risadinha para fazer de conta que seu comentário venenoso era
uma piada divertida.


É
que nós, coelhinhas, usamos isso no inverno para nos aquecer -
expliquei.


Um
vestido de John Rocha? - perguntou, olhando para o vestido de Jude
que eu estava usando.

Da coleção do outono passado, não? Reconheci a
bainha.

Fiquei
pensando em alguma coisa bem arguta e cortante para dizer mas,
infelizmente, não consegui achar nada. Depois de uma pequena
pausa, falei:


Bom,
acho que você está louca para circular pela festa.
Gostei de te ver outra vez. Tchau!

Eu
precisava ir para o jardim tomar um pouco de ar fresco e fumar um
cigarro. Estava uma noite linda, quente e estrelada, com a lua
iluminando todos os canteiros de rododendros. Na verdade, não
gosto muito dessa flor, ela me lembra as casas de campo vitorianas do
norte da Inglaterra como as descritas nos livros de D. H. Lawrence,
onde as pessoas se afogam em lagos. Desci a escada para a parte
inferior do jardim. Dentro da casa, tocavam valsas vienenses com
tanto entusiasmo que parecia que o mundo ia acabar. De repente ouvi
um barulho perto e vi a silhueta de um corpo nas janelas
envidraçadas. Era um rapaz jovem e atraente do tipo que
freqüenta colégio público.


Oi
- disse o jovem. Acendeu um cigarro, meio desajeitado, e desceu a
escada até onde eu estava.

Você não gostaria de dançar? Ah, desculpe, não
me apresentei - disse, estendendo a mão como se estivéssemos
no primeiro dia de aula da Universidade de Eton e ele fosse o
ex-reitor que tinha esquecido as boas maneiras.

Meu nome é Simon Dalrymple.


Bridget
Jones - falei, estendendo a mão e me sentindo um membro do
Ministério da Guerra.


Oi.
Legal te conhecer. Então,
vamos
dançar? - disse ele, parecendo o rapaz de colégio
público outra vez.


Bom,
não sei - falei, querendo escapar e dando sem querer uma
risada que parecia de uma prostituta de cais.

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