O DIÁRIO DE BRIDGET JONES (26 page)

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Authors: Helen Fielding

BOOK: O DIÁRIO DE BRIDGET JONES
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O
livro diz também que enfrentar fases difíceis é
como entrar numa espiral e a cada volta que se desce há um
ponto mais sofrido e complicado. Nesse ponto está o seu
problema ou ponto fraco. Quando você está na parte mais
estreita da espiral, você sempre volta rapidamente à
mesma situação, pois os círculos são
pequenos. À medida que vai descendo, passa por cada vez menos
fases difíceis mas é preciso voltar a elas, então,
quando acontece com você, você não deve p
ensar
que voltou à estaca zero.

O
problema é que, agora que estou sóbria, não sei
dir
eito do que ela
estava falando.

Mamãe
ligou. Tentei explicar como é difícil ser mulher, tendo
um prazo determinado para procriar, problema que não aflige os
homens. Mas ela argumentou:

  • Ah,
    sinceramente, querida. Vocês hoje são tão
    insatisfeitas e românticas. O problema é que têm
    muitas escolhas na vida. Não digo que não amava seu
    pai, mas quando eu era jovem sempre nos diziam que, em vez de
    esperar grandes e arrebatadoras emoções na relação
    com os homens, devíamos “esperar pouco e perdoar
    muito”.E para ser sincera, querida, ter filhos não é
    lá essas coisas. Quer dizer, não vá ficar
    ofendida, não é nada pessoal, mas se fosse para
    começar de novo não sei se eu ia ter...

Ai,
Deus. Até minha própria mãe preferiria que eu
não tivesse nascido.

SEGUNDA-FEIRA,
14 DE AGOSTO
59,4kg
(ótimo – me transformei numa montanha de banha para a
entrevista, e estou com uma espinha), 0 unidade alcoólica,
muitos cigarros, 1.475 calorias (mas vomitei, então,
aproximadamente 400).
Ai,
Deus. Estou morta de medo da entrevista. Avisei Perpétua que
eu ia ao ginecologista; sei que devia ter dito dentista, mas não
se pode perder a chance de torturar a mulher mais mexeriqueira do
mundo. Estou quase pronta, só falta acabar a maquiagem
enquanto fico repassando na cabeça o que penso da liderança
de Tony Blair. Ai, Deus, quem é o secretário da Defesa
do gabinete paralelo? Merda, merda. É um sujeito de barba?
Merda: o telefone tocou. Não acredito: uma terrível voz
de adolescente com sotaque do sul de Londres informa, enquanto ao
fundo ouve-se uma musiquinha chata:

  • Alô,
    Bridget, aqui é da parte de Richard Finch. Esta manhã
    ele foi a Blackpool, por isso pede para cancelar a entrevista.

Remarcada
para quarta-feira. Vou ter de fingir que tenho um problema
ginecológico persistente. De todo jeito, vou tirar a manhã
inteira.

QUARTA-FEIRA,
16 DE AGOSTO
Noite
horrível. Acordava banhada em suor, sem saber a diferença
entre os Unionistas do Ulster e o Partido Trabalhista
Social-Democrata e a qual dos dois pertencia o líder Ian
Paisley.

Em
vez de ser levada à redação para encontrar o
grande Richard Finch, me largaram suando na recepção
durante 40 minutos, pensando "Ai, Deus, quem é o ministro
da Saúde?" até que Patchoul
i,
a assistente dele, me chamou com uma vozinha enjoada. Ela estava de
bermuda de
lycra
e tinha um
piercing
no nariz e ficou pasma com meu vestido xadrez, como se, numa
tentativa inútil de ser formal, eu estivesse usando um vestido
de baile de seda até o pé no estilo Laura Ashley.


Você
sabe que Richard quer que participe da reunião de pauta, não?
- murmurou ela, enquanto andava, rápida, por um corredor e eu
ia atrás correndo. Abriu uma porta cor-de-rosa e entramos numa
sala enorme, cheia de pilhas de roteiros, aparelhos de tevê
dependurados no teto, gráficos pelas paredes e bicicletas
encostadas nas mesas. No fundo da sala tinha uma mesa grande onde
estavam fazendo a reunião. Quando chegamos, todo mundo virou
para nos olhar.

Um
homem gordo, de meia-idade, com cabelo loiro encarolado, camisa de
jeans
e óculos de aro vermelho falava, agitado, na cabeceira da
mesa.


Entre,
entre! - convidou, mostrando os punhos como um boxeador.

Estou pensando no ator Hugh Grant. Estou pensando na atriz Elizabeth
Hurley. Estou pensando em como, dois meses depois, eles continuam
juntos. Estou pensando como é que ele vai explicar essa
história. Isso mesmo! Como é que um homem que tem uma
namorada como Elizabeth Hurley ganha uma chupão de uma
prostituta em uma via pública e se safa? O que aconteceu com o
ciúme?

Eu
não acreditava no que estava ouvindo. E o gabinete paralelo? E
o processo de paz
na
Irlanda do Norte? Obviamente ele estava querendo saber como é
que ele mesmo podia se explicar por ter dormido com uma prostituta.
De repente, falou, olhando na minha direção.

  • Você
    sabe
    ?
    - A mesa inteira, cheia de jovens
    grunges
    ,
    ficou me olhando.

    Você. Deve ser a Bridget! - berrou, nervoso.

    Como se explica que um homem com uma bela namorada tenha conseguido
    transar com uma prostituta, ser descoberto e se safar?

Entrei
em pânico. De
u um
branco na minha cabeça.

  • Então?
    - perguntou ele.

    Vamos, diga alguma coisa!

  • Bom,
    deve ter sido porque alguém engoliu as provas.

Houve
um silêncio de morte, e então Richard Finch começou
a rir. O riso mais repelente que já ouvi na vida. A seguir
todos os jovens
grunges
começaram a rir também.

  • Bridget
    Jones - disse Richard Finch, passando a mão nos olhos.

    Seja bem-vinda ao
    Boa
    tarde!
    . Sente-se,
    querida - e deu uma piscadela.

TERÇA-FEIRA,
22 DE AGOSTO
58kg,
4 unidades alcoólicas, 25 cigarros, 5 bilhetes de
loteria.
Ainda
não tive notícia do resultado da entrevista. Não
sei o fazer no próximo feriado nacional já que não
vou agüentar ficar sozinha em Londres. Sharon vai ao Festival de
Edimburgo, Tom também, e muita gente da editora. Gostaria de
ir, mas não sei se tenho dinheiro e tenho medo que Daniel
também vá. E também todo mundo vai ser mais
bem-sucedido e vai estar se divertindo mais do que eu.

QUARTA-FEIRA,
23 DE AGOSTO
Vou
para Edimburgo com certeza. Daniel vai ficar trabalhando em Londres,
por isso não corro o risco de dar de cara com ele no Passeio
Real. Vai ser bom sair de Londres, em vez de ficar aqui ansiosa à
espera de uma resposta do
Boa
Tarde!

QUINTA-FEIRA,
24 DE AGOSTO
Vou
ficar em Londres. Sempre acho que vou me divertir no Festival, mas
acabo só conseguindo assistir ao espetáculo de mímica.
Além disso, você arruma a mala com roupas de verão
e acaba morrendo de frio e tiritando por ruas com piso de pedra ao
lado de ruínas, imaginando que todo mundo deve estar numa
festa ótima.

SEXTA-FEIRA,
25 DE AGOSTO
19h.
Vou para Edimburgo. Perpétua hoje me disse:

  • Bridget,
    acabo de me lembrar de uma. coisa. Aluguei um apartamento em
    Edimburgo e adoraria se você quisesse ficar lá conosco.

Que
gentil da parte dela.
22h.
Acabo de ligar para Perpétua e dizer que não vou. É
besteira, não posso gastar esse dinheiro.

SÁBADO,
26 DE AGOSTO
8h30.
Certo, vou ficar em casa, descansar e passar um fim de semana
saudável. Ótimo. Posso terminar de ler
Estrada
dos famintos.
9h.
Ai, Deus, estou tão
deprimida. Todo mundo foi para Edimburgo, menos eu.
9h15
.
Será que Perpétua já foi?
Meia-noite.
Edimburgo.
Ai, Deus. Preciso assistir a alguma coisa amanhã. Perpétua
acha que sou maluca. Passou a viagem de trem inteira com o celular no
ouvido e berrando para as pessoas:

  • As
    entradas para o
    Hamlet
    com Arthur Smith estão completamente esgotadas, então
    podemos ir às cinco horas ver os irmãos Coen, mas aí
    vamos nos atrasar para ver Richard Herring. Então devemos não
    assistir a Jenny Eclair - puxa, não entendo como ela ainda
    faz
    isso
    - e ver
    Lamark
    ,
    depois tentamos entrar no Harry Hill ou no Bondages e Julian Clary?
    Espera aí. Vou tentar ver se consigo lugar no Gilded Balloon.
    Não, o Harry Hill está lotado, então que tal se
    não formos nos irmãos Coen?

Combinei
de encontrar com eles às seis no Plaisance porque queria ir ao
Hotel George deixar um recado para Tom e dei de cara com Tina no bar.
Não imaginava que o Paisance fosse tão longe; quando
cheguei, o espetáculo já havia começado e não
havia mais lugar. No fundo, achei ótimo e voltei a pé
para o apartamento - ou melhor, despenquei. Lá, fiz uma
maravilhosa batata cozida no forno com recheio de frango ao
curry
e assisti à
Vítima
na tevê.
Devia encontrar Perpétua às nove, no
salão. Às oito e meia eu já estava pronta, mas
não sabia que não podia ligar para fora, então
não podia chamar um táxi, então acabei chegando
atrasada. Voltei para o bar do Hotel George para ver se encontrava
Tina e saber onde estava Sharon. Pedi um
bloody
mary
e fiquei
fazendo de conta que não me importava de ficar ali sozinha
quando percebi uma confusão de
flashes
de fotógrafos e câmeras de tevê num canto. Quase
dei um grito. Lá estava mamãe, vestida como se fosse a
Marianne Faithful, pronta para entrevistar Alan Yentob.

  • Agora,
    todo mundo quieto! - ordenou ela numa voz tipo Una Alconbury.

    Aaaaa-ção!!! Escute, Alan – perguntou ela,
    parecendo muito emocionada -, você algum dia chegou a pensar
    em suicídio?

Para
ser sincera, a programação de tevê esta noite
estava bem legal.

DOMINGO,
27 DE AGOSTO, EDIMBURGO
0
espetáculo assistido
2h
da manhã.
Não consigo dormir. Aposto que todo mundo está em
alguma festa ótima.
3h.
Ouvi Perpétua chegando e dando sua opinião sobre
comediantes da escola alternativa:

  • São
    bobinhos, infantis, completamente sem graça.

Acho
que ela deve ter entendido alguma coisa errada.
5h.
Tem um homem no apartamento. Eu
sinto
que tem.
6h.
O homem está no quarto de Debby, do Marketing. Droga.
9h30.
Acordei com Perpétua berrando:

  • Alguém
    quer assistir à palestra sobre poesia?

Houve
um silêncio, depois ouvi Debby e o homem falando baixinho e ele
indo para a cozinha. Soo
u
a voz de Perpétua, furiosa:

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